O Sol apareceu há pouco tempo no céu do Sertão paraibano, mas Martins Rodrigues, 68 anos, já está na antiga Estação Ferroviária de Sousa. Desde muito jovem, ele circula por aquela região, onde, nos anos 80, instalou seu pequeno comércio de venda de sopas e caldos. Antes, o calor sertanejo se misturava ao fervor das centenas de pessoas que circulavam naquele espaço, no entra e sai dos vagões que chegavam de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Hoje, poeira e vazio se mesclam às memórias de um equipamento que não tem sido perdoado pela ação do tempo.
Os trens, que na época serviam para encurtar distâncias, transportavam pessoas e cargas, desembarcando na Estação de Sousa experiências e histórias. No final dos anos 80, o local foi perdendo viagens e hoje está sendo vencido pelo tempo que não perdoa, quando não há cuidado. Paredes rachadas, portas quebradas e estruturas deterioradas, memórias que vão apagando dia a dia, misturadas às pichações, lixos e restos de materiais usados para consumo de drogas. Entre as duas edificações, resiste a barraquinha de Martins Rodrigues, o último suspiro de vida naquele espaço.
“Hoje tô praticamente ‘enjaulado’. Tive que colocar grade em tudo, porque já arrombaram várias vezes. Até pelo teto já entraram, acredita? A gente tem medo, mas não posso abandonar isso aqui. Isso representa tudo para mim. Quando abri meu negócio, na época da ditadura militar, eu não tinha nada, só uma esposa e uma geladeira. Daqui, consegui comprar um terreninho e construir minha casa, consegui formar minhas duas filhas, uma assistente social e uma fisioterapeuta, e meu filho pode estudar e passar em concurso público. Hoje ele é maquinista, no Ceará”, disse o comerciante.
“Vinha muita gente das cidades vizinhas, da zona rural, conhecer a estação. Aqui era um ponto de encontro, coisa bonita de se ver. As Marias-fumaças, o povo que vinha para conversar, para ver o trem pela primeira vez. Era bonito de se ver… Quando resolvi investir aqui, nos anos 80, consegui a permissão para abrir meu negócio por tempo indeterminado. Mas não podia vender álcool, porque podia causar algum acidente entre os passageiros e trens. Até hoje não vendo, continuei vendendo só minhas sopas e meus caldos, preferi manter como sempre foi”, destaca Martins Rodrigues, preso a um passado que não sabe se volta.
A Estação de Sousa é uma das 22 estações espalhadas Paraíba adentro, segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias no Estado da Paraíba (Sintefep). Ela recebia trens vindos do Recife, Fortaleza e Mossoró, tanto transportes de passageiros quanto de cargas.
O primeiro modal deixou de funcionar no final dos anos 80. O segundo, interrompeu operações há aproximadamente sete anos atrás. Hoje, a empresa responsável pela administração da malha ferroviária paraibana encerrou CNPJ no Estado, segundo do Sintefep.
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Correio da Paraíba